“Estou muito satisfeito com o que estou vivendo, mas não vou me acomodar.”
A frase dita por Guilherme Costa Marques em 2012, em entrevista à Revista On, se tornou um resumo perfeito da carreira do trirriense que, anos depois, veria o mundo conhecer o seu futebol.

Dos campos de Três Rios ao sonho europeu
Desde cedo, Guilherme sabia o que queria. Quando a mãe cobrava boas notas, ele respondia com convicção que seria jogador de futebol. “Sempre tive esse instinto. Quando você tem um objetivo muito definido, acaba não se desviando”, lembra o atleta, hoje com 33 anos.
Nos gramados e quadras do bairro Purys, começou a trilhar o caminho que o levaria longe. O primeiro passo foi na escolinha Maria Fumaça, com o professor Cide Clei, a quem o jogador dedica enorme carinho. Aos 14 anos, jogou um torneio pelo Paraíba do Sul FC e, no ano seguinte, já treinava com o time profissional — uma ascensão precoce que chamou atenção.
Aos 16, veio o primeiro grande desafio: a mudança para Portugal. A distância da família e as dificuldades financeiras marcaram o início da trajetória internacional. “Fiquei um ano e sete meses só treinando, sem salário. Foi bem difícil, mas me deu uma casca, um poder de superação muito grande”, recorda Guilherme.
Superação e destaque no futebol europeu
O início no Braga foi de aprendizado. Atuando em posições diferentes, Guilherme descobriu a importância da adaptação. A qualidade técnica e a disciplina chamaram atenção de gigantes como Barcelona e Juventus, e o levaram a novos desafios.
Emprestado ao Gil Vicente, mostrou seu talento e versatilidade. Depois, no Legia Varsóvia, maior clube da Polônia, viveu uma das fases mais vitoriosas da carreira. Foram três anos de muito sucesso, com títulos e grandes atuações — incluindo uma partida memorável na Champions League, diante do Real Madrid, no lendário Estádio Santiago Bernabéu.
“Jogar uma Champions League foi um sonho. O estádio lotado, e o Guilherme em campo contra os melhores”, relembra a esposa, Ivy Vasconcelos, que acompanha o jogador desde o início da carreira.
Da Itália à Turquia: novas conquistas
Após brilhar na Polônia, Guilherme recebeu uma proposta da Série A italiana. No Benevento, viveu uma das experiências mais marcantes. “Pude competir com os melhores clubes do mundo e testar minhas valências em um campeonato de altíssimo nível”, afirma.
Da Itália, seguiu para a Turquia, onde defendeu clubes como Malatyaspor, Trabzonspor e Goztep, conquistando a Taça da Turquia e classificando o time para a Liga da Europa.
Em 2021, uma nova mudança: China. No auge da pandemia, o jogador precisou cumprir 21 dias de quarentena antes de ingressar no país. Defendeu o Guangzhou e, atualmente, joga pelo Changchun Yatai.
“Sempre fui muito aberto a outras culturas. A cidade onde moro tem 19 milhões de habitantes”, conta Guilherme, que voltou recentemente ao Brasil para se recuperar de uma lesão no joelho.
Foco, disciplina e profissionalismo
Mesmo em Três Rios, o ritmo continua intenso. “Tem gente que me vê na cidade e acha que estou de férias. Mas desde que acordo até o fim da tarde estou treinando e fazendo fisioterapia. Tenho contrato em vigor e me dedico como se estivesse jogando”, explica.
Para o preparador físico Ian Pinho, que trabalha com ele há uma década, o segredo está na constância. “Ele é muito dedicado e tem um nível de cobrança interna muito grande. Hoje é um atleta melhor que aos 25 anos”, afirma.
Guilherme acredita que o amadurecimento fez dele um jogador mais completo. “Com o tempo, você conhece melhor o seu corpo e joga de forma mais inteligente. A idade não é um problema quando há dedicação e performance.”
Família, empreendedorismo e o futuro
Casado desde 2011, pai de Enzo (nascido na Itália) e Clara (nascida na China), Guilherme se considera um homem transformado pela paternidade. “Ser pai é algo mágico. É a coisa que mais te aproxima de Jesus, porque você se doa inteiramente sem esperar nada em troca”, define.
Além dos gramados, o atleta também se tornou empreendedor em sua cidade natal, com a criação da TR Beach Arena, espaço que une esportes de areia, academia, luta e restaurante. “Queríamos um local completo para as famílias. Quando estou em Três Rios, me dedico de cabeça”, diz.
Quanto ao futuro, o plano é claro: voltar bem da lesão, seguir jogando por mais alguns anos e equilibrar carreira e família. “Sou parte do 1% dos atletas que chegam nesse nível. Me sinto honrado e feliz pelo que conquistei, mas ainda quero mais”, conclui.
“Sempre soube que chegaria muito longe. Talvez não imaginasse o quanto, mas entreguei o máximo para a minha profissão — e ela me entregou tudo de volta.”