Sabe aqueles encontros que precisam acontecer na vida? É o caso da fisioterapia com Cristiano D’Ávila. O juiz-forano de 37 anos de idade, nascido e criado no bairro Bairu, de onde mudou-se pouco tempo atrás, é um dos nomes mais reconhecidos e respeitados quando o assunto é fisioterapia esportiva por um conjunto de fatores que fazem parte da trajetória profissional. No entanto, foi necessário um “empurrãozinho” de uma pessoa especial para esse encontro acontecer.
Filho do Herli e da Margarida, ele sempre gostou de esportes, principalmente o futebol. “É minha primeira lembrança de atividade física com quatro anos de idade e pratico até hoje”, comenta. Claro que o primeiro sonho profissional foi ser jogador. Chegou a fazer testes e passar em alguns deles, mas um misto de incertezas e possíveis instabilidades o levaram à escolha de um curso superior ao terminar o ensino médio. “Minha primeira escolha foi educação física. Sempre quis trabalhar com preparação física e estar em clube trabalhando com atletas. Mas, fiz o vestibular e não passei”, lembra sobre o momento da grande virada que viria logo após.
Foi o irmão, Rafael D’Ávila, cinco anos mais velho, que aconselhou sobre outra possibilidade. “Sempre digo que ele me ingressou na fisioterapia esportiva. Sempre o ouvi muito e ele falou para eu tentar a fisioterapia porque teria mais opções caso me frustrasse na área esportiva, o que poderia acontecer. Tentei, passei no vestibular e, desde então, o que me propus fazer deu certo na área da fisioterapia esportiva”, lembra Cristiano
Os estudos, os estágios e todos os trabalhos foram relacionados à área esportiva. Uma escolha que aliou a paixão pelo esporte com uma situação pessoal. “Sempre tive o intuito de trabalhar ajudando atletas a se recuperarem e na prevenção de lesões. Um dos motivos também que me ajudou nessa escolha foi eu ter tido uma lesão na adolescência e não ter voltado como acho que deveria. Me formei em 2010 e nunca pensei em desistir ou largar para fazer outra coisa. Sou realizado com a fisioterapia”, garante.
Se a fisioterapia está diretamente ligada aos movimentos, o fisioterapeuta também se movimentou bastante desde a formatura. O primeiro emprego foi no Sest/Senat em trabalhos diretos com trabalhadores de empresas de transporte. “Sempre agradeço ao professor Dirceu, que me indicou, e à Júlia, que me contratou. Foram sete anos de atendimentos feitos com muito carinho”, recorda.
Em paralelo, Cristiano começou os atendimentos direcionados especificamente à fisioterapia esportiva. “O primeiro espaço foi em 2011 e em parceria com o Sest/Senat. Era um espaço de 25 m². Em 2013 mudei para um ambiente maior e isso aconteceu novamente em 2015. Até chegarmos no que estamos agora, um espaço de 600 m² que é a sede do Grupo CD”, elenca as etapas da trajetória.



Clubes e jogadores
Em meio a tudo isso, ainda no início da carreira outra frente de trabalho na área o conquistou e o acompanha até hoje: as experiências com clubes e atletas profissionais. Mais uma vez, o irmão tem participação importante no início dessa história. “No meu primeiro dia de aula na faculdade, o Rafael escreveu uma carta de próprio punho desejando boa sorte e que eu fosse fisioterapeuta de um jogador famoso. Como se diz, o resto é história. Parece que ele estava prevendo que, graças a Deus, eu conseguiria”, conta com a lembrança que emociona.
A primeira grande experiência com clubes fora do país foi em 2011 em uma conquista que uniu coragem, ousadia e conhecimento. “O Atlético de Madri tinha um médico das categorias de base que é juiz-forano, o Gustavo Lucas. Eu era recém-formado e, mesmo sem nos conhecermos, mandei um e-mail para ele falando que queria ter experiência em clubes e perguntando se eu conseguia passar um tempo lá. Foi na cara e coragem mesmo. Ele demorou a responder e eu entendi que seria um ‘não’ educado. Ele me respondeu logo depois disso e disse que poderia, sim, e me receberia. Sou muito grato a ele”, lembra Cristiano.
A experiência foi transformadora e motivadora para a carreira que estava no início. Foram três meses no clube, sem qualquer salário ou forma de pagamento, mas com o objetivo de aprender na prática. “Paguei para estar lá e não tenho nenhum arrependimento. Colho frutos de tudo o que recebi profissionalmente e culturalmente até hoje. Mantenho contatos daquela época e foi um enriquecimento profissional gigantesco”, explica sobre o período.
Em 2016 e 2017 viveu novas experiências no exterior. “Primeiro no Sibiryak, da Rússia, uma equipe de futebol de salão. Foram três meses trabalhando com um grande amigo, Léo Santana, aqui de Juiz de Fora, que jogava lá. Fiz um trabalho com ele e com a equipe toda. A outra foi no Kairat, também de futebol de salão, mas no Cazaquistão, e fiquei como fisioterapeuta da equipe”, recorda. Outra experiência marcante aconteceu também em 2017, quando trabalhou com o jogador Danilo, à época no Real Madri. “Foi minha maior vivência profissional por se tratar do Real Madri. Estive no clube, tirei fotos com praticamente todos os jogadores, vi jogo da Champions League no estádio… foi marcante”, conta Cristiano.
Já em relação aos atletas profissionais, Cristiano soma mais de 100 atendidos ao longo da carreira. “Em 2020, por exemplo, fiquei praticamente a temporada toda com o Wesley Moraes, que na época jogava no Aston Villa, da Inglaterra, e com o Douglas Luiz, hoje meio-campo da Juventus. Gosto de fazer consultorias tanto para atletas como para equipes. Esse ano já estive na Polônia por duas semanas para ajudar na organização e no atendimento de uma equipe de futebol de salão”, exemplifica sobre uma das experiências.


Em geral, os trabalhos que realiza com atletas são de prevenção ou reabilitação. “Eles entram em contato e fazemos lima avaliação para criar um programa. Sempre faço isso com o clube estando de acordo, nunca de forma escondida, sem o clube saber. O trabalho deve ser um complemento ao que é feito pelo clube e a ideia é somar com o departamento de saúde”, afirma.
O profissional conta que a maior parte dos casos de lesões no futebol e no futsal são no quadril, nos joelhos e nos tornozelos. Vez ou outra se depara com desafios pela frente e os encara com responsabilidade e conhecimento. “Sempre lembro de dois principais, sendo um pelo tempo e outro pela lesão. O primeiro foi com o trirriense Guilherme Marques, quando jogava no Benevento, da Itália, e teve uma lesão no ligamento colateral medial do joelho. Era final de temporada, ele voltou ao Brasil e me procurou já falando que naquela não conseguiria mais jogar porque o pessoal falava de dois meses de recuperação. Calculei o tempo, trabalhamos e em 40 dias ele voltou, conseguiu jogar a última rodada do campeonato italiano”, lembra ao contar que o caso não era tão grave, mas tempo de recuperação se destacou.
Já a segunda memória de atendimento desafiador foi com o jogador Wesley Moraes, em 2020, então atleta do Aston Villa, da Inglaterra. Em um carrinho forte, rompeu praticamente todos os ligamentos do joelho. “O pessoal achou que ele nunca mais fosse jogar e, graças a Deus, conseguiu. Foi um trabalho conjunto do clube comigo e depois de 10 meses ele voltou”, conta ao reforçar que, embora eleja esses dois casos como principais, todo trabalho é desafiador. “Sempre são poque você tem a expectativa de alguém para a realização daquele trabalho”, analisa.
Sobre as experiências fora do país, Cristiano as coloca em lugar de destaque na carreira. “É realização profissional e pessoal. São trabalhos que me proporcionaram conhecer lugares incríveis, pessoas incríveis e, principalmente clubes e suas estruturas, coisas que eu jamais poderia imaginar que eu conheceria. Digo que é realização pessoal porque tudo o que tenho hoje, tudo o que consegui, foi por meio da fisioterapia esportiva. Sou uma pessoa completamente realizada. Junto com meu pai, minha mãe, meu irmão e minha esposa, a fisioterapia esportiva é o mais importante para mim. Não consigo separar a família da profissão”, firma Cristiano D’Ávila.


Sempre em movimento
Em meio às experiências fora do país, a raiz em Juiz de Fora só cresceu ao longo dos anos. Do início da carreira ao desenvolvimento do Grupo CD, cada etapa deixou marcas em sua vida. “Comecei sem nenhum paciente, fui na cara e na coragem. Ficava na rua chamando as pessoas. Já fiz muita panfletagem nas ruas para a clínica porque não tinha como pagar alguém para fazer. Me orgulho porque tudo isso gerou crescimento, sei que tudo teve um propósito”, enfatiza o fisioterapeuta.
O que era o Cristiano D’Ávila Fisioterapia Esportiva cresceu e tornou-se o Grupo CD quando começou a organizar os serviços que já prestava, como as consultorias e os cursos, além dos atendimentos. Atualmente são, em média, 40 atendimentos por dia na fisioterapia com uma equipe que reúne quatro fisioterapeutas e dois estagiários da área. “Nossos pacientes são da equipe. Temos uma metodologia própria desenvolvida e fazemos reuniões semanais para falar sobre cada paciente, é algo único”, revela.
O modelo da clínica é algo que desenvolveu a partir das experiências em grandes clubes. “Neles, você tem 30 atletas e quatro ou cinco fisioterapeutas, quatro ou cinco profissionais de educação física. Não tem um para cada atleta. O que precisa acontecer, então é ter um pensamento integrado, uma metodologia em que todos os profissionais sejam capazes de atender todos os atletas. As ideias precisam estar muito encaixadas”, explica sobre os atendimentos na clínica.
Além dos serviços como avaliação funcional do movimento e treinamentos para aumento de performance e recovery, Cristiano e o Grupo CD estão à frente de trabalhos que contribuem com outros profissionais da área. “Prestamos consultoria para quem quer alavancar clínicas ou academias, consultoria de organização para fisioterapeutas. Mais um trabalho que também já consegui realizar fora do país. E, além disso, também ministro cursos de avaliação e prevenção de lesões”, informa. Em 2025, o grupo criou o PEDE (Programa Educacional de Desenvolvimento Esportivo), uma série de 10 cursos ao longo do ano com temáticas diferentes ministrados por profissionais de referência em suas áreas. “É como uma pós-graduação, mas um curso não gera vínculo com o outro, então a pessoa pode literalmente escolher o que fazer. Vamos continuar e, 2026 com novidades”, adianta.
É nesse movimento de realizar o próprio sonho que Cristiano esbarra e contribui com a realização de outros. O motivo: acredita que todo profissional de saúde precisa ter proximidade e afeto com cada paciente. “Você não se importa só com um joelho machucado. Você se importa com o afastamento de um trabalho por causa desse joelho machucado, com brigas que esse joelho pode causar em casa, com rendimento do filho na escola que pode ser afetado pela situação… Quando você compra uma briga com um joelho, não é só um joelho. É uma família envolvida, sentimentos, aspirações”, finaliza o profissional.