As imagens são impactantes e revelam um cenário que ninguém quer presenciar em uma viagem: um motorista de ônibus lutando contra o sono. Um vídeo crucial, obtido pela TV Integração, trouxe à tona o momento exato em que o condutor de 51 anos, à frente do ônibus da Viação Cometa, cochilou instantes antes de provocar um acidente devastador na BR-040, em Juiz de Fora, que resultou na morte de quatro pessoas.
O motorista, cuja identidade não foi divulgada pela polícia, aparece claramente sonolento nas imagens, com uma sequência de bocejos que antecedem o trágico desfecho. O vídeo, que foi peça-chave nas investigações, mostra o condutor sonolento e bocejando antes do incidente.
A Luta Contra o Sono
O delegado Daniel Buchmüller, responsável pelo caso, foi categórico ao analisar as gravações. “É nítido que ele luta contra o sono e que o acidente ocorreu em um lapso em que o investigado adormece ao volante”, afirmou. A perícia técnica e os depoimentos colhidos confirmaram que o ônibus do transporte público, que foi atingido, estava parado corretamente, reforçando a tese de falha humana por parte do condutor do ônibus interestadual.
A Polícia Civil preservou a imagem do motorista, mantendo seu rosto borrado nas divulgações.
O Cenário da Tragédia
A colisão brutal entre o ônibus da Viação Cometa e um coletivo urbano de Juiz de Fora aconteceu na tarde do dia 5 de setembro. As quatro vítimas fatais estavam no veículo municipal: Sophia Gonçalves da Silva, de apenas 2 anos; sua mãe, Maria Eduardah Mariano Silva, de 21 anos, que estava grávida; Nicoli Augusta Santos Silva, de 16 anos; e Miria Aparecida Nunes, de 47 anos. Nicoli e Miria eram conhecidas por sua participação ativa na paróquia local, frequentando missas e eventos religiosos.
O acidente, ocorrido por volta das 14h30 no km 779 da BR-040, viu o ônibus de Juiz de Fora, que fazia a linha 743 e seguia para o distrito de Toledos, ser atingido enquanto estava parado em um ponto às margens da rodovia. O ônibus da Cometa, por sua vez, vinha de Belo Horizonte com destino ao Rio de Janeiro. Além das vítimas fatais, a Polícia Rodoviária Federal registrou 40 feridos, sendo 8 do ônibus de viagem e 32 do veículo do Consórcio Via JF.
As Consequências Legais
Os desdobramentos da investigação da Polícia Civil foram apresentados em coletiva de imprensa na quinta-feira, dia 16. Segundo o delegado Daniel Buchmüller, as câmeras internas do ônibus de viagem foram decisivas para desvendar a dinâmica do ocorrido.
O motorista da Viação Cometa foi indiciado por três crimes graves:
- Homicídio culposo na direção de veículo: Quando alguém causa a morte de outro sem intenção, por negligência, imprudência ou imperícia. A pena é majorada por se tratar de motorista profissional.
- Lesão corporal culposa: Ferir outra pessoa sem intenção, por ação descuidada ou imprudente. Também com pena majorada pela condição de motorista profissional.
- Lesão corporal qualificada.
O inquérito isentou o motorista do ônibus urbano de Juiz de Fora de qualquer responsabilidade, confirmando que ele estava estacionado no local apropriado.
Em seu depoimento, o condutor da Cometa alegou não se recordar do acidente, apenas do impacto. Laudos periciais, contudo, indicaram a ausência de sinais de frenagem ou tentativa de desvio, evidências que corroboram a tese de que ele havia adormecido ao volante. O caso agora segue para o Ministério Público de Minas Gerais.
Histórico de Acidentes Preocupante
O prontuário do motorista revela um histórico preocupante. De acordo com o inquérito, ele esteve envolvido em sete boletins de ocorrência relacionados a acidentes. Em dois desses casos, registrados em 2010 e 2021, houve vítimas fatais. O acidente mais recente, em Conselheiro Lafaiete – também na BR-040 –, teve um motociclista como vítima, e um laudo da Polícia Rodoviária Federal (PRF) já o apontou como causador da colisão.
Curiosamente, a investigação descartou exaustão como fator. O motorista estava em sua primeira viagem após um período de férias, indicando que a sonolência não estava ligada a uma escala de trabalho excessiva.
Diante desse histórico, o delegado Buchmüller enfatizou: “A reincidência em condutas imprudentes ao volante demonstra a necessidade de impedir que o investigado volte a dirigir enquanto responde judicialmente.” Ele foi afastado de suas funções, e a polícia já solicitou a suspensão de sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH), buscando impedir que continue exercendo a profissão durante o processo judicial.
A Posição da Viação Cometa
Procurada pela reportagem, a Viação Cometa informou que não se manifestará sobre o caso.
Fonte da imagem: G1 Zona da Mata